USP e universidade francesa PSL estudam criação de novo centro internacional de pesquisa
O foco será nas áreas de economia circular, tecnologia de novos materiais e terapia celular. Parceria com a instituição INRAe também prevê a criação de núcleo de pesquisa agronômica.
11/07/2025
Por Adriana Cruz | Jornal da USP
11/07/2025 Por Adriana Cruz | Jornal da USP
Representantes da USP e da PSL discutiram os termos do acordo para a criação do novo centro, que deverá ter estrutura administrativa e de pesquisa semelhante à do CNRS – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

A USP e a Université Paris Sciences et Lettres (PSL) estão estudando a criação de um centro internacional para reunir pesquisadores que atuam nas áreas de economia circular e de terapia celular.  Os termos do futuro acordo foram discutidos durante uma reunião realizada entre os reitores das duas universidades, Carlos Gilberto Carlotti Junior, pela USP, e El Mouhoub Mouhoud, pela PSL, e representantes da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Consulado da França em São Paulo, no dia 9 de julho, na sede do Museu de Arte Contemporânea (MAC), localizada no Parque Ibirapuera, em São Paulo. 

Em novembro do ano passado, o reitor da USP e uma comitiva de dirigentes da Universidade estiveram na PSL, uma das mais importantes universidades francesas, para assinar dois convênios, que serão os dois pilares principais do novo centro internacional. O primeiro, na área de economia circular, e o segundo, para a colaboração na área relacionada ao tratamento de leucemia e linfoma utilizando células CAR-T.  

“Estamos integrando duas universidades de excelência na busca de soluções para desafios globais, como sustentabilidade e terapias contra o câncer. Esse não será um centro isolado, mas estará integrado a duas iniciativas importantes que já estão consolidadas na estrutura da nossa Universidade: o Institut Pasteur e o CNRS”, ressaltou Carlotti.  

“Estou muito confiante na habilidade de nossos pesquisadores em construir esse novo modelo de integração que fomentará não apenas a pesquisa em áreas estratégicas, mas formará novas gerações de cientistas”, destacou o reitor da PSL. 

Para o pró-reitor de Pós-Graduação da USP, Rodrigo Calado, “a estreita colaboração entre a USP e a PSL criará um centro conjunto de pesquisa entre as duas universidades, o que é inédito no Brasil e com poucos exemplos no mundo, envolvendo parcerias entre professores, alunos de pós-graduação e pesquisadores, com ensino e pesquisa em estreita cooperação. Inicialmente, serão dois pilares do centro conjunto USP-PSL: um em economia circular e outro em terapia celular. O pilar em terapia celular é uma expansão da cátedra recém-criada entre o Centro de Terapia Celular e o Institut Curie e deverá sediar-se em Ribeirão Preto, possibilitando o recrutamento de pesquisadores, estudantes e empresas para novas soluções em terapia celular”. 

Após a reunião, o grupo da USP e da PSL participou de uma visita ao MAC, guiada pelo diretor do museu, José Tavares Correia de Lira.

Economia circular

Nos dias 7 e 8 de julho, um workshop marcou o início da colaboração estratégica com foco na área de economia circular entre a USP e a PSL. O objetivo do encontro foi definir áreas científicas de interesse comum e discutir potenciais projetos colaborativos estruturantes, sob a coordenação do professor da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), Aldo Ometto, e da professora da Chimie ParisTech da PSL, Anne Varenne.

“O workshop permitiu que conseguíssemos identificar algumas oportunidades estratégicas e alguns projetos potenciais para dar início a essa parceria. Identificamos duas grandes áreas, uma área mais de gestão, economia e políticas públicas, e outra relacionada à tecnologia de novos materiais e processos. E projetos mais específicos, como, por exemplo, toda parte da governança, de gestão dos recursos e materiais nos diversos ciclos de vida dos produtos, de novos materiais, de desenvolvimento físico-químico desses novos materiais e da inteligência artificial aplicada no design. É um leque bem variado, com um potencial grande. Os pesquisadores estão muito animados e são oportunidades com grande potencial de resultado de impacto para a ciência e, principalmente, para a sociedade”, ponderou Ometto.

O evento foi realizado no Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS, na sigla em francês), na Cidade Universitária, em São Paulo, e contou com a presença de 13 pesquisadores da USP e oito da PSL; do reitor da PSL, El Mouhoub Mouhoud; dos pró-reitores da Universidade: Aluísio Segurado (Graduação), Rodrigo Calado (Pós-Graduação), Paulo Nussenzveig (Pesquisa e Inovação), e Ana Lúcia Duarte Lanna (Inclusão e Pertencimento); do diretor do CNRS, Liviu Nicu; além de outros dirigentes da USP e da Fapesp.

A cônsul-geral da França em São Paulo, Alexandra Mias, que também participou da abertura do workshop, saudou a parceria e afirmou que a colaboração entre USP e PSL acontece em “um momento muito peculiar”, referindo-se à comemoração dos 200 anos das relações diplomáticas entre Brasil e França em 2025, e lembrou da visita que o presidente francês Emmanuel Macron fez à USP, em março do ano passado, para inaugurar o Institut Pasteur. “Economia circular é uma área prioritária para o governo da França e os dois países devem liderar essas pesquisas”, asseverou Alexandra. 

Um workshop marcou o início da colaboração estratégica com foco na área de economia circular entre a USP e a PSL - Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

Pesquisa agronômica

Também no dia 9 de julho, representantes da USP e do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (INRAe, na sigla em francês) se reuniram no MAC para avançar nas discussões para a formalização da instalação de um laboratório conjunto da instituição francesa com a USP no campus de Piracicaba. O INRAe é uma entidade pública científica francesa voltada para pesquisa na área de agronomia, e, atualmente, a USP é a principal colaboradora internacional do instituto.  

Segundo a diretora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Thais Vieira, o centro se dedicará a cinco pilares principais para desenvolver soluções sustentáveis na produção de alimentos: otimização dos sistemas de produção, melhoramento genético de plantas e animais, aproveitamento de resíduos para gerar novos recursos nutricionais, desenvolvimento de sistemas agrícolas para todos os tipos de produtores (incluindo a agricultura urbana) e aplicação de tecnologias digitais para aprimorar a produção. 

 “Esse novo centro irá reunir professores recém-contratados na USP e docentes com mais experiência da Esalq e de outras unidades de ensino e pesquisa. Tenho certeza de que será um trabalho conjunto muito enriquecedor com o INRAe e que mostrará ainda mais a força que nossa Universidade tem na produção científica e na formulação de soluções relacionadas aos cinco pilares do novo centro”, avaliou o reitor da USP. 

O diretor de assuntos internacionais do INRAe, Pierre Marie, afirmou que a proposta é que esse novo organismo apresente uma abordagem integrada de atuação. “Ao falarmos em desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas ou nutrição, não dá para tratar desses temas sem uma abordagem interdisciplinar e internacional. Por isso, é fundamental fomentar essa colaboração. A partir desse centro, acreditamos realmente que a colaboração nessas áreas será ampliada, de maneira a integrar desde os estudantes até os pesquisadores mais experientes”, disse. 

Nos próximos dias 10 e 11 de julho, a Esalq sedia o Scientific Seminar International Research Center, em parceria com o INRAe. No evento, gestores e pesquisadores da Esalq e da instituição francesa discutem o planejamento de ações científicas colaborativas, com foco na criação do novo centro. 

Ecossistema de inovação

Prevê-se que os dois novos centros internacionais de pesquisa – com a PSL e com o INRAe – tenham estrutura administrativa e científica semelhante ao CNRS, que completou um ano de existência na USP no início de 2025. Também está prevista a parceria dos centros com empresas.  “Os centros internacionais já instalados na USP e os novos centros que estão sendo criados são exemplos da inovação que temos buscado em todas as nossas ações. Além disso, as pesquisas por eles desenvolvidas, com abordagem multidisciplinar, e congregando professores, pesquisadores e estudantes, fortalecem ainda mais esse ecossistema”, considerou Carlotti.

A reunião entre a USP e o INRAe foi realizada na sede do MAC, em São Paulo - Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

 “A Fapesp está acompanhando, com grande interesse, enquanto agência de fomento também dedicada a atrair para São Paulo centros de pesquisa de parceiros estrangeiros estratégicos, todos esses movimentos de aproximação entre pesquisadores de nosso estado e instituições de extraordinária qualidade como a PSL e o INRAe. Os exemplos já muito bem-sucedidos dos centros aqui instalados em parcerias com o CNRS e o Institut Pasteur, somados a essas novas iniciativas, confirmam a relevância da inserção internacional do Estado de São Paulo como ambiente para o desenvolvimento de pesquisas de excelência em nível mundial”, avaliou o professor da Faculdade de Direito (FD) e diretor administrativo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Fernando Dias Menezes de Almeida. 

Além do Institut Pasteur e do CNRS, no contexto das ações de internacionalização in house da USP, a Universidade criou, na atual gestão da Reitoria, o Centro Internacional para Engenharia Genética e Biotecnologia (ICGEB, na sigla em inglês) e o Centro de Micologia Médica da América Latina (CMM Latam), fruto de uma parceria com a Universidade de Exeter. 

Texto: Adriana Cruz. Arte: Simone Gomes | Jornal da USP


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