Pesquisadora da EESC-USP desenvolve ferramenta que mensura a gestão sustentável de resíduos sólidos urbanos
17 de fevereiro de 2025
Atualizado: 07 de março de 2025
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Atualmente, quando o assunto é gestão dos resíduos sólidos, grande parte das cidades brasileiras focam quase que predominantemente suas atenções para a coleta e descarte, ao invés de promoverem uma gestão sustentável, com cuidados que permitam a redução na geração, reaproveitamento, reciclagem, logística reversa, destinação e disposição finais adequadas desses resíduos. Trata-se de um problema ambiental, mas que não é uma exclusividade nacional, já que países de média e alta renda atuam com o mesmo modelo de gestão.

Pois, foi pensando na necessidade de se aprimorar tais modelos que uma pesquisadora da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (EESC-USP), desenvolveu uma ferramenta de avaliação de sustentabilidade que pudesse ir além da divisão entre as esferas social, econômica e ambiental tradicionalmente conhecida e utilizada.

“Nomeada de ISRD (Índice de Sustentabilidade da Gestão de Resíduos Domiciliares), a ferramenta permite identificar alternativas a serem priorizadas na gestão dos resíduos domiciliares, além de agregar para uma tomada de decisão direcionada na elaboração de políticas, planos, programas, projetos, bem como para a identificação das dimensões mais frágeis e busca de soluções para atacar as causas mais urgentes”, destaca Audrey Moretti Martins, pesquisadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos (NEPER), da EESC.

O projeto teve a orientação do professor e coordenador do NEPER, Valdir Schalch, e os pesquisadores Ana Maria Rodrigues Costa de Castro e Igor Matheus Benites.

O programa utiliza como base as oito dimensões propostas por Gibson, as quais relacionam-se integrando os três pilares da sustentabilidade mencionados anteriormente, na tentativa de evitar uma sobreposição entre eles. Essas dimensões são compostas pela Integridade do sistema socioecológico; Recursos suficientes para subsistência e acesso a oportunidades; Equidade intergeracional; Equidade intrageracional; Manutenção de recursos naturais e eficiência; Civilidade socioambiental e governança democrática; Precaução e adaptação; e Integração entre situação atual e de longo prazo.

“A mensuração da gestão sustentável de resíduos sólidos é algo complexo. Por isso, para chegar no modelo de indicadores qualitativos e quantitativos que criamos, foram consultados especialistas da área, entre docentes, pesquisadores, membros da Câmara Temática de Resíduos Sólidos da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Tietê-Jacaré, além de pessoas da International Solid Waste Association Young Profissional Group Brazil e gestores responsáveis pelo setor de resíduos sólidos nos municípios. A ideia foi disponibilizar uma ferramenta de fácil acesso e utilização pelos gestores públicos, pesquisadores e demais interessados, viável de ser aplicável na avaliação dos modelos de gestão”, explica Audrey.

 

 Diferentes formas de avaliação

A ferramenta ISRD é capaz de realizar a avaliação da gestão de resíduos sólidos de variadas formas, permitindo que o usuário utilize os dados primários, como entrevistas e questionários, ou secundários, como dados já publicados em documentos e/ou fontes oficiais, para o seu preenchimento.

“Ao final das mensurações, o índice apresenta sua avaliação em forma de relatório, o qual resume os dados de entrada lançados pelo usuário. As informações são sintetizadas em um gráfico radar com uma escala de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo do 0, maior deve ser a mudança de estratégia que o município precisa para adequar-se aos preceitos da sustentabilidade. Já quanto mais próximo do 1, maior a sustentabilidade detectada na gestão de resíduos domiciliares do município, numa escala que passa por cinco categorizações: altamente desfavorável, desfavorável, médio, favorável, até chegar ao altamente favorável”, detalha a pesquisadora.

Após ser desenvolvida, a ferramenta entra para a fase de testes. Especialistas que participaram da pesquisa estão acessando o programa para obter feedbacks e atualizá-lo. “Além disso, como próximo passo pretendemos expandir sua aplicação para outras regiões do país, ainda em caráter de teste, bem como estruturar o desenvolvimento de outros indicadores de sustentabilidade para os demais tipos de resíduos classificados quanto à origem (limpeza urbana, resíduos de serviços públicos de saneamento básico, resíduos de serviços de transporte, da construção civil, além de resíduos industriais, de serviços de saúde, agrossilvopastoris e resíduos de mineração). Por fim, serão desenvolvidos artigos científicos oriundos da tese”, descreve Audrey.

Também com o objetivo de permitir maior familiaridade da ferramenta com os usuários, o ISRD foi desenvolvido no programa Microsoft Excel e estará disponível para download gratuito dentro do site do NEPER, juntamente com um tutorial em PDF e vídeo que orienta a sua aplicação.

Ciência na prática

Para a pesquisadora da EESC, é fundamental utilizar o conhecimento científico das universidades para atender as demandas atuais de uma sociedade em constante transformação.

“A universidade precisa se aproximar do Poder Público, do setor empresarial e sociedade civil, desenvolvendo serviços, projetos, produtos e pesquisas com aplicabilidade, algo que é incentivado aqui no NEPER. Essa relação permite que os alunos se desenvolvam acadêmica e profissionalmente, ao mesmo tempo em que as organizações e a população se beneficiam do conhecimento científico aplicado.”


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